Responder à pergunta “quem bebe só nos finais de semana é alcoólatra?” não é tão fácil. Há vários fatores e elementos que precisam ser considerados. Uma questão é certa: quem bebe (ou mesmo usa outras drogas) todos os finais de semana, invariavelmente, tem grave chance de ser um alcoolista ou adicto. Existe um conceito médico e psicológico que trata desse doente como “alcoolista funcional”. Em termos mais simples, podemos dizer que uma pessoa que anseia chegar a sexta-feira para beber ou que não concebe assar um churrasco sem uma caipirinha ao lado da churrasqueira tem enormes chances de ser um alcoolista funcional.
Sabe-se, em função de estudos e pesquisas científicas, que cerca de 20% dos seres humanos são alcoolistas. Esses estudos levam em conta a disponibilidade química das pessoas, ou seja, uma pessoa pode ser alcoolista sem nunca ter bebido! Ela apenas não desenvolveu a doença, mas passará a sofrer suas consequências desde o primeiro uso. Então, tecnicamente, uma pessoa que bebe ou usa outras drogas de forma “recreativa”, mesmo que não pareça, pode ser um alcoolista/adicto na fase ativa da doença que tende a se agravar com o passar do tempo.
A questão é que esse doente só vai expressar o problema caso falte a bebida no momento esperado. Quase sempre o alcoolista funcional consegue estabelecer boas relações com o trabalho e com a família. Mas voltando ao caso do final de semana, imagine que a pessoa tenha compromissos que impeçam a ingesta de bebida ou esteja em um local sem acesso ao álcool. Sistematicamente sintomas como irritação, insônia, dores, depressão leve, entre outros, vão se sobressair ao estado costumeiro da pessoa. Excetuando casos que envolvam um problema externo, um contratempo grave, os sinais mostram que pode ser um caso de alcoolismo. Lembrando que, muitas vezes, o alcoolista funcional usa esses argumentos (infortúnios externos) como justificativa para sua irritação e mesmo como desculpa para beber.
Nesse ponto, é preciso lembrar que existem vários fatores que influenciam no uso do álcool ou outras drogas. Em função disso que, tanto o diagnóstico quanto o tratamento são baseados no fato de a doença ser multifatorial. Para o reconhecimento da adicção e também para o processo de busca pela abstinência e posterior sobriedade, os profissionais médicos e terapeutas analisam aspectos como meio social, estrutura familiar (anterior ou atual), cultura, frequência ou quantidade da ingesta, etc. Em resumo, hábitos, lugares e pessoas de convívio são a base para um ambiente sadio ou motivadores do uso e abuso das substâncias psicotrópicas que levam à dependência química.
Então, como ajudar, ser ajudado ou mesmo se ajudar? Alcoolistas funcionais geralmente não carecem de um programa de internação, mas a maioria precisa de terapia e todos necessitam de algum tipo de apoio. Esse apoio pode ser medicamentoso, espiritual, entre outros, mas o que não pode faltar é o auxílio familiar ou das pessoas do convívio. Há que se pensar, em uma forma mais simples, sobre pelo menos três níveis de consumo: mero usuário, usuário abusivo ou alcoolista/adicto.
Analise as seguintes questões: a pessoa bebe ou usa drogas só de vez em quando, mas com frequência? Ela bebe ou usa de forma frequente e intensa? Ou vive em função do consumo de drogas ou álcool? Respostas claras e sinceras a estes fatores são a principal ferramenta que mostra como você ou seu familiar/amigo se relaciona com álcool ou drogas e se a doença pode ser “funcional” ou já estar instalada de forma grave. O próximo passo é buscar a ajuda correspondente. De menos para mais acentuada: mudar hábitos, lugares e pessoas do convívio; desenvolver a espiritualidade; procurar terapia ou grupo de apoio; consultar um psiquiatra especializado; e internação. Lembrando que esses recursos são cumulativos, ou seja, quem chega ao ponto de necessitar de ajuda institucional (ser internado), também terá de trabalhar todos os outros fatores anteriores para o sucesso na busca da abstinência e, posteriormente, da sobriedade emocional.
Esteja atento. Olhe para você ou seu familiar. Álcool não é medicamento nem alimento. Não necessitamos consumi-lo. E lembre-se que evitar ou abolir a ingesta ajudará não só você ou sua família, mas todos as pessoas do convívio. A sociedade será mais sadia quando e quanto mais pessoas viverem de forma sóbria, lúcida, abstêmia. Nossos adolescentes e jovens não precisam viver em um mundo onde são considerados estranhos por não beber ou usar drogas. Faça parte da mudança. Ajude-se ou busque ajuda o quanto antes. O futuro e a felicidade de sua família e, por que não, da sociedade, dependem de sua atitude perante esse mal que aflige e destrói tantas famílias. João Henrique Machado
Jornalista, consultor em Dependência Química
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