“Primeiro as coisas primeiras”, ou como se diz no resto do mundo, “first things first”. É certamente um dos maiores lugares-comuns em tanto em comunidades terapêuticas, clínicas para recuperação da dependência química, reuniões de Alcoólicos Anônimos e de Narcóticos Anônimos, enfim. E é assim mesmo que funciona. Estabelecer prioridades e agir com firmeza e boa vontade é fundamental para a vida em recuperação. O problema, porém, é que antes é preciso avaliar, diria ponderar, para decidir o que deve vir primeiro... e quando.
Outro lugar-comum, esse já em tom de jargão mesmo, é aquela frase: “primeiro eu, segundo eu, terceiro eu”. Bom, é claro que a sobriedade vem em primeiro lugar. Estar sóbrio/limpo e, de preferência, no melhor nível de serenidade e espiritualidade possível é premissa básica para qualquer outra atividade ou querer na vida de dependentes químicos em recuperação. Mas algumas vezes deixar de ir a uma reunião de mútua ajuda, por exemplo, é algo a se considerar. Todos temos outras responsabilidades importantes e que não podem ser desprezadas sob pena de, inclusive, desviarmos de nossa recuperação.
Fazer escolhas. Isso é o que ocupa a mente do ser humano a todo o instante, centenas de vezes ao dia. Acho que todos os filósofos do mundo tresvariaram sobre essa questão. O melindre é que em alguns momentos críticos, é preciso cogitar prioridades. A questão é simples: o que é mais ou menos importante, o que é mais ou menos urgente. Mas não é tão fácil assim.
Às vezes é preciso priorizar o bem-estar da família. Estar junto ou presenta pode ser mais importante do que comparecer a uma reunião (e muitos vão vociferar contra mim por dizer isso). Sei que, se a pessoa não estiver bem, se estiver na ativa, por exemplo, não haverá nem família para priorizar. Sei disso. Mas às vezes é preciso fazer o que o coração manda, o que faz se sentir bem. Para resolver a questão, fiz uma muito insolente metamorfose na Oração da Serenidade:
“Concedei-me, Senhor, Serenidade para estabelecer prioridades, Coragem para levar as decisões a cabo, e Sabedoria para fazer as escolhas corretas”.
João Henrique Machado Jornalista, consultor em Dependência Química
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