Há algum tempo, ouvi uma estória emocionante em uma palestra com o Frei Elias Vella, nascido em Malta, conhecido mundialmente como teólogo e morto em outubro de 2022. Esse sábio senhor contou, em meio àquela pregação, sobre um peixinho que queria encontrar o mar. A grande expectativa do pequenino era encontrar o mar, nadar no mar, conhecer as maravinhas do oceano, do grande oceano, do imenso oceano que sempre ouvira falar. Segundo o frei Elias contou, era um peixinho agitado, de certa forma impaciente. Nadava sempre bem rápido sem dar muita atenção às coisas do dia a dia, às coisas que passavam por ele cotidianamente. Estava focado em sua obsessão de chegar ao mar. De ver as maravilhas do mar, de viver, de sentir emoções, de curtir, de, quem sabe, pelo menos ser aceito nas águas do mar.
Alcoolistas e dependentes químicos de outras drogas parecem muito com o tal peixinho da estória. Quando na fase ativa da doença, passam seus dias buscando alegrias e satisfações, muitas vezes pelo menos um sentido para suas vidas… e raramente esse tipo de sensações e respostas filosóficas são encontrados, mesmo para dependentes em recuperação ou mesmo pessoas não-dependentes. Mas, voltando ao pequeno peixe, certo dia ele encontrou um peixe bem grande. Grande o suficiente para não se preocupar com a correria do peixinho. Intrigado, o grandão perguntou:
_ Por que nadas tão rápido, de um lado para outro, parece procurar algo que perdeste?
_ Quero chegar ao oceano, quero conhecer o mar! quero viver as maravilhas desse mundo imenso que é o mar…
_ Mas… pequeno amigo, você já está no mar!
_ Como? Não é possível! O oceano é muito grande, é imenso, e só consigo ver poucos metros à frente.
_ Mas…
_ Desculpe, seu peixão, preciso continuar minha busca.
E foi assim que, depois de um certo tempo, o pequeno peixe morreu… no mar… sem nunca ter visto o mar.
Na maioria das vezes mesmo quem não é dependente químico se comporta assim. Procura-se alegria no dinheiro, na boa saúde, no poder… no sucesso. Por falar nisso, já paramos para pensar por que tantas pessoas famosas cometem suicídio? Chegaram onde quiseram: ao sucesso. Porém, quando lá chegam, sentem-se no cume de uma montanha e que os únicos caminhos que ocorrem são para baixo.
Mas ninguém precisa viver assim. Basta observarmos o oceano no qual estamos nadando e sermos felizes com o que temos ao nosso redor. Basta percebemos o infinito que nos rodeia. Basta termos mente aberta para as oportunidades, para a vida feliz que podemos ter. Assim espero que tanto eu como você consigamos perceber o oceano no qual vivemos e sermos felizes como somos e com o que temos, por enquanto.
João Henrique Machado
Jornalista, consultor em Dependência Química
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