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Estamos exatamente onde deveríamos estar


Não importa em que estágio você está na sua recuperação do alcoolismo ou dependência química de outras drogas. Não importa se você ainda não encontrou o caminho para sua recuperação saudável, serena e sólida. Não importa nem mesmo se você é familiar ou amigo de alguém que estacionou ou precisa estancar o uso. Todos estamos exatamente onde deveríamos estar. Passamos por dificuldades e momentos difíceis parecem nos acompanhar. Temos a sensação de termos perdido tempo, lamentamos nosso presente e tememos não ter forças para construir o futuro da forma que planejamos. Porém, quando entendemos que o passado está repleto de experiências e ensinamentos, quando entregamos o futuro nas mãos de um Poder Superior criador, podemos assumir nosso presente com a estabilidade que é necessária para fazer hoje somente as coisas que precisamos para que nosso amanhã seja melhor, mais agradável e, por que não, feliz.

A visão mostrada no parágrafo acima não é nova nem desconhecida da maioria de nós. Apenas parece esquecida ou difusa pela nossa miopia emocional e espiritual. O fato de assumirmos nosso presente como uma dádiva, uma realidade ou uma bênção é demonstrado em praticamente todos os meios que propõem um bem viver. Está em mantras zen, está no programa de 12 Passos de Alcoólicos Anônimos (A.A.), está na Bíblia Sagrada dos cristãos. No evangelho de Mateus, por exemplo, consta: “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal.” (Mt 6:34) e “E se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos eleitos serão abreviados aqueles dias.” (Mt 24:22).

É bastante comum, principalmente nos primeiros meses ou até anos de recuperação, que haja uma cobrança pessoal a respeito do “tempo perdido”. Mas, de uma forma prática, tudo pode ser resolvido. Aquele curso ou emprego pode ainda serem adquiridos. Aqueles bens materiais que se foram podem não ter sido o que teriam significado maior no momento atual. Mesmo a convivência (ou não-convivência) com os filhos pode hoje assumir um aspecto de tempo de qualidade. E, por mais que possa parecer uma situação complexa e incorrigível, como por exemplo não ter convivido devidamente com uma pessoa que já partiu, pode hoje ser deixada nas mãos do Poder Superior. O importante, mais do que se perdoar, é assumir uma atitude positiva. Você ou eu não sabemos por que estamos onde ou como estamos, mas é onde e como deveríamos estar. A partir desse ponto, com autoperdão e com firmeza de caráter, podemos começar uma nova jornada a cada dia.

É importante sempre lembrar de que “não há vento favorável para quem não sabe para onde navegar”. Mas também é preciso, para chegar a algum lugar, sabermos onde estamos. Então percebemos a importância do autoconhecimento e da percepção mais nítida possível do ambiente e situação nos quais nos encontramos. Prece e meditação, contato com nosso Poder Superior nesse ponto são fundamentais. A certeza de que um Deus amantíssimo zela por nós é essencial. Não estaríamos vivos se Ele não existisse. Ele permitiu que estivéssemos aqui, nesse momento, exatamente onde estamos. Somente precisamos pedir a Ele “o conhecimento de sua vontade e forças para realizar essa vontade”, como diz o 11º Passo de A.A..

Portanto, é necessário que consigamos entender não como chegamos até aqui, mas o quanto mudamos internamente para chegar à conclusão de que algo não saiu como o desejado. Só a percepção de que estivemos por caminhos escuros já é uma grande vitória. Agora é tempo de praticar compreensão, acolhimento e compaixão conosco mesmos. Assim estaremos menos inseguros e reativos, deixaremos de buscar aprovação e apoios externos. Buscaremos superação para nosso ego negativo, para nossa autossuficiência, para nossa autopiedade e entenderemos que tudo o que aconteceu foi para o nosso bem e serviu de alicerce para a vida abençoada que teremos daqui para diante.

Pensando dessa forma, certamente teremos uma nova atitude diante dessa mudança interior. Nossos desejos infundados deixarão de existir. Nossas soluções parciais e nossas fugas realizadas por nossa personalidade desequilibrada não farão mais sentido. O sofrimento e as frustrações que nos assolaram serão elementos de um passado distante e não mais real. Reconhecimento e gratidão pelas experiências boas e ruins serão parte de nossa nova maneira de viver. Estamos exatamente onde devemos estar: perdoados e com uma série de páginas em branco a serem preenchidas em paz, com uma nova postura interna e livres para enfrentar os desafios que virão, pois estamos e sempre estivemos amparados por um Ser Superior que nos dá força e coragem para seguir em frente.



João Henrique Machado

Jornalista, consultor em Dependência Química



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