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Domando a memória química


Domando a memória química - Dependência química e alcoolismo

“Evitar hábitos, lugares e pessoas”. Esta máxima é repetida dezenas de vezes em internações de qualquer centro de recuperação do alcoolismo e outras drogas, centenas por terapeutas e consultores de Dependência Química e milhares em reuniões de AA ou NA em todo o mundo. É uma forma resumida (bem resumida) de se falar sobre o enfrentamento da memória química. Na verdade, a maioria dos dependentes só conseguem algum “controle” sobre sua doença quando colocam o enfrentamento da memória química como protagonista de suas vidas. Há que se estar atento e ter consciência que este processo está sempre presente apresentando os malfadados gatilhos que podem levar a uma recaída.

Se você nunca ouviu esse termo - memória química - pense na sensação de vontade de fumar junto com o cafezinho de depois do almoço. Lembre daquela ansiedade por um trago quando o relógio lembra que falta apenas 30 minutos para você sair do trabalho e se enfiar no bar da esquina. Imagine só você preparando um churrasco e sua mão buscando um copo de caipirinha que não está lá. Essa é a memória química. São todas as situações do dia a dia em que havia o uso da droga e que agora as mesmas tarefas têm de serem feitas sem a substância. E tal tarefa precisa ser feita de forma correta, em princípio, serena em um segundo momento, e prazerosa em um nível mais avançado.


Algumas dessas tarefas são possíveis de evitar, claro. Como nos exemplos acima, deixar de tomar o cafezinho ou deixar de assar o churrasco. Mas tem outras, como trabalhar, que não se pode evitar. Ainda há a questão daqueles que bebiam sempre, por qualquer motivo (ou sem motivo) e em todo o lugar. Fica mais difícil, mas com discernimento pessoal solitário, ou com a ajuda de grupos, ou com terapia, ou ainda com espiritualidade, cada um começa a investir em seus próprios caminhos para trocar os sulcos mentais. Aprendem a tomar estradas diferentes para chegar ao fim da tarefa com sobriedade.


É claro que, mesmo para o dependente químico mais restrito é impossível evitar tudo. Enfim, há que se aprender a reconhecer os gatilhos da memória química e estar atento para, nesses momentos, usar de todas as ferramentas espirituais (que nos são fornecidas pelo nosso grupo de mútua ajuda, consultor, linha espiritual, enfim...) para poder driblar a tentação e a recaída. Há que se propor viver em paz, sem angústias, olhar as coisas por este viés. Uma das coisas que podemos nos basear é que, segundo estudos, a memória química tende a abrandar com o tempo. Ainda que a compulsão inconsciente perdure por toda a vida, estudos conhecidos pelo nome de “fenômeno da sensibilização” dão conta que, no nosso caso, evitando hábitos, lugares e pessoas por si só já é um passo bem consistente.


João Henrique Machado Jornalista, consultor em Dependência Química


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