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Aprenda a usar seu GPS Emocional para chegar à sobriedade


O enfrentamento do alcoolismo ou outra dependência química é uma jornada desafiadora e necessária. Na grande maioria das vezes, não ocorre uma libertação milagrosa em poucos segundos. A busca, a caminhada é necessária, mas não necessariamente penosa. A vida coloca desafios para todos e todo mundo que quer ir de um ponto A até um ponto B sabe (ou deve saber) que tem de encarar objeções para chegar onde quer. A questão aqui é que um dependente químico se encontra em um ponto A repleto de sequelas e feridas e com pensamentos confusos. Não sabe quais caminhos tomar e muitas vezes não acredita que conseguirá chegar ao seu destino minimamente humano: uma vida em sobriedade.

Mas sabe-se que para chegar ao estimado ponto B, há que se enfrentar uma série de desconfortos. Nem tudo é fácil. Em muitos momentos você pode até querer desistir e pensar que não é possível. Mas saiba que a sua história não é diferente das de outros dependentes químicos do planeta. Existem muitos que conseguiram fazer acontecer, chegaram à sobriedade. Conseguiram uma libertação e, com tempo, esforço e paciência, construir relações saudáveis com a vida, consigo mesmo e com os outros. Se outros, muitas vezes com experiências piores que a sua conseguiram e estão conseguindo diariamente, de 24 em 24 horas, você também consegue.

Mas há um detalhe: você não tem certeza de como chegar ao ponto B. Esse processo de busca funciona como um caminho, como um avião que parte de um aeroporto para outro. A aeronave se orienta por um sistema de GPS (Global Positioning System, em inglês), mas esse mecanismo, poucos sabem, se atualiza de momento a momento. Existem vários fatores que influenciam no trajeto traçado no início da viagem: a rotação da terra, ventos, etc. O que o sistema faz? Manda um sinal para o satélite e este manda um sinal de volta para mostrar ao avião a rota para a qual ele deve voltar para chegar realmente ao seu destino inicialmente programado. Isso ocorre o tempo todo. A linha não é reta, mas um zig-zag contínuo.


A sua jornada em direção à sobriedade física e emocional é mais ou menos assim. Você, em algum momento, até consegue traçar um objetivo minimamente claro. Você, depois de um tempo de desintoxicação e espiritualidade, está apto para entender o que quer e o que não quer na sua vida. Alcança uma visão clara do seu destino. Mas você tem de entender que precisará, da mesma forma que o GPS, de informações no meio do caminho para saber se está seguindo na direção correta! A rota será desviada pelo ambiente externo. Isso é certo. E você tem de tomar consciência disso para caminhar com segurança.


É mais ou menos assim: uma experiência lhe tira do seu trajeto. Essa informação vai para seu satélite, que você pode chamar de Poder Superior, seu “eu maior”, sua mente, o seu mentor, o programa de 12 passos do seu grupo de apoio, enfim. Então você consegue recalcular sua rota para voltar-se em direção ao destino. Entenda que “voltar-se novamente em direção ao destino” não significa retornar ao mesmo caminho. Compreenda que as pessoas, as situações do cotidiano, a sociedade, o tempo e o espaço… tudo é fluido e muda o tempo todo. Seu caminho também precisará ser flexível. E assim você vai tendo experiências, recalculando rotas em um contínuo zig-zag. O bom é que você pode aprender com cada um dos desvios de rota. O ideal é que esteja atento a maior parte das vezes para não cometer esses desvios (não entenda aqui “desvios” como recaída, mas como incômodos no seu trajeto).

E como funciona o seu satélite? Ele reage baseando-se em informações positivas e negativas. Ambas dão informações de clareza e lucidez a respeito do que você quer ou não quer. E aqui aparece uma questão bem importante: é preciso paciência, bondade, amor para consigo mesmo. Você tem de entender que, no início da jornada, não adquiriu habilidades e experiências suficientes para manter-se na rota. Na verdade, estará sempre aprendendo. O importante é foco no destino e atenção para não cometer os mesmos descaminhos.

Trate sua vida como um laboratório de experiências, geralmente imperfeitas. Lembre que perfeccionismo é uma característica de pessoas ansiosas para se sentir no controle das situações. E isso, sabemos, é utopia ou egocentrismo. A primeira nada mais é do que uma irrealidade e o outro, um defeito de caráter. Prestando atenção no que ocorre nesse laboratório de experiências que é a vida, você vai ajustando os elementos e adequando os próximos passos. Isso é importante para diminuir a pressão sobre si mesmo, reduzir a ansiedade e as expectativas irreais sobre os seus dias.


Porém, por último, lembro que há sequelas emocionais que geram desconforto e ativam mecanismos de defesa (assunto grande a ser tratado em outros textos) que podem travar suas motivações e mesmo sua capacidade de recalcular rotas. Nesse caso, esteja sempre aberto e próximo de um mentor, um terapeuta, um amigo, um grupo de apoio… você decide. O importante é estar disposto e focado.

João Henrique Machado

Jornalista, consultor em Dependência Química



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